quarta-feira, 31 de dezembro de 2008

MEMÓRIAS DO ARQUIVO



Já fez quarenta anos que regressei da minha segunda tranche na guerra colonial.
Tinha vinte e três anos, sete anos de Marinha, e quarenta e sete meses teimosamente vividos e sofridos numa tentativa que se previa em vão.
Era uma guerra com igual características, já antes experimentada e abandonada por países, muito mais poderosos que Portugal.
Dos soldados portugueses, poucos eram os que entendiam a expressão de uma guerra que à partida estava perdida. Os combatentes que serviram os ideais do poder político instituído foram uns heróis, muitas vezes mesmo, uns super homens.
Mas não foi só no terreno dos três teatros em que conflito estava instalado, que tais homens, na sua grande maioria, foram colocados à prova de forma pouco honrosa, por muito dolorosa, e pouco respeitosa. Foi assim sem exagero que se traduziram muitas das viagens dos que foram e dos que voltaram. Infelizmente, em nenhum caso, regressaram todos os que embarcaram. É pois, a razão sem negação da minha razão, acreditem nela ou não.

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Viagem de compensação pelo fim da missão

Vou tentar, sem imagem, fazer uma abordagem,
sem VIlanagem, como vi e senti, esta viagem...

Julgo que não foi só a pressa de chegar, que nos levou a embarcar de Luanda para Lisboa sem nada questionar, numa coisa que era tão boa, e que nem tinha um nome á balda, chamado Ana Mafalda.

É o que quero aqui recordar, a quantos tiveram a coragem de tal percurso suportar, com a miragem de à Pátria regressar.
Foi uma viagem que não nos honrou, mas em que muito se sofreu e lutou, contra um inimigo que não aparecendo, disparando ou matando, nos ia torturando, porque o mar não estava doce ou mesmo brando, e à medida que o tempo ia passando, cada vez mais nos asfixiava, e os nervos de todos arrasava.
Bem nos podíamos ter recusado embarcar, ao não se colocar a hipótese de tal solução, não foi por falta de razão, mas pelo respeito e admiração que sempre tivemos pelo nosso comandante que não merecia tal negação.
Qual Titanic qual carapuça!.. Pobres daqueles passageiros, que fizeram parte da sua viagem inaugural, que se julgaram os maiores, porque inauguravam o maior e melhor paquete do mundo, afinal quase todos morreram.

E que ignorantes foram, todos aqueles que nos anos sessenta, fizeram cruzeiros à volta do mundo, pensando certamente que o faziam, nos melhores paquetes da época.
Tristes incultos - coitados!.. não tiveram o privilégio de viajar num barco de carga à balda, de nome Ana Mafalda, ou mesmo no Niassa seu comparsa. Felizmente, que lhes foi vedada essa hipótese, porque assim, muitos milhares de homens despidos de arrogância mas fardados de orgulho; não foram privados, de fazer inesquecíveis viagens em transatlânticos de tão alto gabarito, onde até reinava, quem diria, muita nostalgia sem aqueles gritos de alegria a que uma viagem de regresso normalmente conduziria.

E falando do barco Ana Mafalda, a que chamavam navio, mas que por graça, quem dele se serviu, até lhe chamava barcaça sem propósito de chalaça, e que, quando encostado ao cais, se a maré estava vazia, quase não se via, assim que a maré ia enchendo, ele lá ia aparecendo todo vaidoso e engalanado, devia ter sido mesmo amaldiçoado, para assim ser utilizado era um monstro mal abençoado, muito mal arquitectado, e pouco adequado, para quem tinha passado dois anos, longe de tudo e todos a quem muito se queria, sem mais poder ver quem morria, quem nascia, ou mesmo aconchegar a roupa ao filho que dormia. (alguns diriam com ironia e ingratidão, que foram uma férias à maneira, bem descansados, debaixo da bananeira, bem saciados do que melhor havia, e com hipocrisia alguém diria, que, nem sequer se morria.!!!)

Quem não lembra com nostalgia, aquele dia em que, frente ao Tenerife todos estávamos a ver que o herói as ondas não ia vencer, porque ritualmente a ilha se deixava de ver, e sempre que de frente contra as ondas se empinava, logo nas seguintes se afundava, era uma luta tão árdua, que até o hélice fora da água trabalhava, e quando a noite se apresentava carregada de um luto resoluto, e o mar estava bruto, até nos fazia pensar que ao puto não íamos chegar.

Mas felizmente para tais primatas que no mar lançaram, que os piratas que outrora o mar sulcaram, acabaram, porque tropas com tal moral, qualquer abordagem ia resultar mal, e desculpem insistir, mas nem uma fisga tínhamos para resistir, ou local para fugir.

Mas se acham que chega de palavras tão pouco amáveis ou mesmo intragáveis, vamos lembrar coisas mais agradáveis, por ventura, mais saudáveis! Quem não recorda todo o esplendor daquele convés tamanho, onde se perfilavam as casas de banho, que com um cheiro assinalável, sendo um local pouco invejável, era muito desejável para quem lá precisava de ir, mas que, imediatamente lhe apetecia fugir, será que por ser um sitio onde tudo estava bem, e nada se encontrava mal! É que, mesmo com dor de barriga, os intestinos numa briga, ou a bexiga a rebentar, mais valia aguentar, e com um discreto olhar, fazer directamente para o mar. Mas tornava-se num tormento, tinha-se que estar sempre atento, não fosse alguma piranha com manha, saltar e a minhoca abocanhar, e é bom de prever o que ia acontecer, com o brinquedo tão chocho e frouxo, não dava para entreter, porque a ninguém dava prazer, e a madrinha de guerra que se tornara namorada, não tinha nada, que a fizesse sentir compensada por tanto ânimo e escrita dispensada.

Tudo estava previsto, bem sei, mas eu não desisto e insisto uma vez mais, de que em tal transporte, que não é imaginário, qualquer Veterinário, não permitiria o embarque de outro tipo de animais.
Banho não havia, a não ser quando chovia, tomado na água empossada nos oleados que então cobriam as bocas do porão, onde no seu interior reinava a confusão, e a grande maioria fazia que dormia, com uma forte dose de agonia, que a muitos envolvia, prenda que ninguém queria.
Qual primitivo! Era apenas um camarote colectivo, que por ser tão selectivo, lá se metiam mais e mais, que não sendo propriamente animais irracionais, era tratados como tais, como se fossem filhos, que não tivessem pais. E isso foi demais.

Não recordo se havia refeitório ou não, mas se existia, do dormitório devia ser irmão. Quem não lembra com orgulho, aquelas refeições com feijão cheio de gorgulho, que provocava uma verdadeira guerra intestinal, que por vezes nos fazia sentir tão mal, desencadeando um verdadeiro tiroteio, e o cheiro que impregnava a zona, não era de perfume, mas sim do azedume do vomitado de algum coitado, que continuava deitado de tanto enjoado, e desde que no navio entrou, nunca mais o mar olhou.

Do bom manjar que lhe era dado, pouco ou nada ele comia, de tão almariado. E para estes, o tempo nunca mais passava, porque nada ajudava, o barco pouco andava e só balançava, o enjoo não passava, e a maravilhosa viagem nunca mais terminava. Mas o que mais se desejava, era que o artista não parasse, e algum amargurado pensasse, por ter acordado estremunhado, que o tormento tinha acabado, e ao mar se atirasse,
pensando ser o cais onde alguém o amparasse.

Também no Titanic, onde nada faltava, e nem sequer se enjoava, porque até em cima de uma mesa se dançava à grande e à francesa, lembro aquela beldade que no convés o vento fustigava, e que por pouco ou nada ao mar se atirava, valeu-lhe na hora decisora, uma mão salvadora. Mas no Ana Mafalda se o milagre existiu!.. ainda bem, mas nenhuma senhora se viu, nossa ou de alguém.

Não é uma tentação, mas quem viu, é fácil chegar à conclusão que também no Titanic a viagem foi até à exaustão, mas coitados! só lhes faltou dormir no porão, o que para nós, foi uma especial distinção, e da qual guardamos imensa gratidão.

Mas, eis que alguém, com uma voz rouca que mais parecia do além, á boca do porão grita, terra á vista!., não é sonho não!!, venham ver se a certeza querem ter. Até que enfim, exclamaram alguns com o coração amargurado, e de tudo já saturado, mais valia vir a nado ou de bote, mas tivemos pouca sorte.
Mas, alguma compensação acabou por existir, porque até viajamos sem passaporte, o que é estranho, tal empenho, porque mesmo na carga a granel, tem que haver sempre um papel, chamado carta de porte. Não fomos apanhados no mar alto, porque terão pensado que íamos a salto. Merecíamos outra consideração ao fim de uma comissão em que todos fomos iguais, não foi justo, sermos transportados que nem animais. Merecíamos mais.

Ainda não havia sol, mas é a nascente que nos aparece a ponte, quase em cima do cais, de onde se vêem os sinais, de alguns lenços, com os quais, as lágrimas, dos que chorando, iam limpando, é a angústia de quem desespera, de tanta espera. Aproximava-se a hora de desembarcar, mas era esquisito, porque o dito, não havia meio de atracar, e todos ansiávamos por aquele pessoal abraçar, o que estava bem difícil de concretizar.
Terminada a viagem frustrante naquele casco flutuante, finalmente a entrada, que se esperava triunfante, mas em vez de entrarmos de frente para aquela gente, surge o último revés, talvez por causa da maré, ou do calado do malfadado, entramos de marcha a ré.
Não fora todos aqueles homens em bicos de pés, naquilo que era chamado o convés, e toda aquela gente feliz e crente no cais, ia pensar que era demais, porque um barco fantasma estava a chegar. Mas para quem a viagem foi uma eternidade, ainda soube no fim, ter alguma dignidade, mostrando capacidade, para continuar a luta, disparando à bruta, sobre o inimigo dos nossos amigos, que era a saudade. Sentimento e instinto fraternal, em qualquer animal, seja ele qual.

Se esta brincadeira não foi totalmente entendida como verdadeira, desculpem a omissão pela pouca exactidão, mas é a minha visão e os argumentos da minha razão!.. Foi um olhar distante, duma viagem frustrante, numa coisa que era flutuante, mas de que ninguém ficou amante.

E para terminar, este fraco exemplar, que ninguém pretende magoar, estes versos vos quero deixar:

Não é disto que nos orgulhamos
Mas de coisas mais ousadas
É por isso que aqui estamos
Lembrando águas passadas

Turistas felizardos e sem mágoa
Sem camarote e numa boa
Debaixo da linha de água
De Luanda para Lisboa

Esta prosa não foi sonhada
Foram dias de sofrimento
A honra não foi estimada
E o militar não era jumento

Igualdade era uma mentira
Que se ia difundido
Medida que não se afira
É investimento perdido

Penalizou-se uma geração
Numa luta para perder
Foram sacrifícios em vão
Não assumidos pelo poder

Foi muita desconsideração
Que ainda hoje não enjeito
Por quem deu tudo à nação
Houve muita falta de respeito

Hoje já mais velhotes
Sentimo-nos rejeitados
Por um bando de coiotes
À ingratidão acorrentados
Beijo ou abraço sem embaraço
Mário Manso


segunda-feira, 29 de dezembro de 2008

A FORÇA DAS PALAVRAS

NÃO SÃO NECESSÁRIAS MUITAS PALAVRAS PARA QUE NOS SINTAMOS RECOMPENSADOS.

As três linhas seguintes, foi o comentário à minha última postagem.

Valeu a pena a espera!! Depois de ler estas linhas, consigo acreditar que ainda há pessoas que se preocupam com o seu semelhante, e que a Amizade verdadeira não pode desaparecer. Bem haja Sr. Mário!

São estes vocábulos carinhosos com que nos envolvem e alimentam, que me fizeram fazer estes versos que envolvem algumas facetas da amizade a que se refere a Neyde Susana, e que por sua culpa, ofereço aos meus amigos neste fim de ano. Bem haja minha amiga.

A amizade foi determinante
Em muitos momentos da guerra
Sem ponderar cada instante
Fez descer homens à terra

Os amigos da vida militar
São mesmo muito especiais
E não é fácil aquilatar
Porque diferentes dos demais

Houve momentos na guerra
Por incrível que pareça
Que tornou o homem fera
Sem que amizade se esqueça

Colocaram a vida em perigo
Sem por isso darem conta
Estando em causa o amigo
Tudo e todos se confronta

Há amigo que não se esquece
Não pela sua beleza exterior
Porque aquilo que enriquece
É o que lhe vai no interior

Bonitos por fora lindos por dentro
Sempre e em qualquer momento
É nesses que mais me concentro
Com que meu espírito alimento

Quando morre um amigo
Morre um pouco de nós
Vai-se um alimento antigo
Que nos torna ainda mais sós
BOM ANO COM BEIJINHOS E ABRAÇOS DESTE VOSSO AMIGO.
Mário Manso

sábado, 27 de dezembro de 2008

DE NOVO O FUZILEIRO LAU.





Não fora os fuzileiros, e coisas agradáveis há, que nunca não seriam vividas.



Vem isto a propósito de um encontro que há dias tive com um camarada a quem rapidamente dispensei uma admiração muito especial. Trata-se do nosso camarada e amigo Lau, pessoa de tão afável que é, nos leva sem reservas a coloca-lo naquele pedestal que reservamos, só a algumas pessoas. Tinha-mos como principal objectivo, participar no jantar de natal do núcleo de fuzileiros do porto, aproveitei levar um CD do José Campos e Sousa, que me tinha sido por ele solicitado. Não tendo a certeza de o encontrar no evento, envolvi os outros dois que faziam parte do trio que representava da Associação de Fuzileiros, “o Dr. Ilídio Neves e o Sarg. Couto”, propondo-lhes uma visita ao camarada ainda não conhecido pessoalmente por eles, ao que de imediato acederam. Surgiu entretanto um problema: o contacto tinha ficado em Lisboa. Mas como se aprendeu nos Fuzos, que os objectivos são para conquistar, não baixámos os braços e acto continuo contactei um outro camarada, que vivendo na sua área me podia servir de guia para o propósito em causa.



A estratégia resultou em cheio porque mesmo não sabendo de tal criatura, ia tentar desbravar a mata que nos estava a dificultar a progressão, passado poucos minutos, chega-nos a informação de que um outro camarada de nome Pinto conhecia o seu estabelecimento. Sugeriu-me que fossemos ter com ele a uma sociedade em Vila Nova de Gaia (Rechousa) que dava pelo nome de Associação Recreativa de Canelas.



Fomos ai recepcionados, por seis camaradas que entusiasticamente nos receberam, levando-nos de imediato a conhecer as instalações, tendo como agradável surpresa um espaço privilegiado muito bem decorado e acolhedor onde se enfatiza o orgulho de Fuzileiro. Daqui lhes endereço os meus parabéns, porque vai certamente congregar e reactivar outros camaradas da região.



Entretanto, fomos convidados para ir com eles almoçar, o que foi aceite, dado que estava a chegar a hora. O almoço foi recheado de um menu tal, para o qual, nem é preciso ter apetite. Algo falhou no fim do repasto o que não é normal acontecer nos fuzos, que foi, quando se tratou de pagar o que era nosso propósito, não nos deixaram, mas nem sequer permitiram que fossemos solidários.



Depois destas simpáticas emboscadas, progredimos decisivamente para aquele que era agora o objectivo primeiro, levar o CD ao Lau. O estabelecimento estava fechado, mas rapidamente se ultrapassou o obstáculo e passado pouco tempo estamos no objectivo. Fomos recebidos com uma alegria incontida. Primeiro pelo Peniche, seu cunhado, depois a esposa do procurado um pouco perplexa, chama pelo marido, enquanto a sossegava de que não se tratava de nenhum assalto! Ao fundo aparece o nosso camarada, transbordando de alegria que quase o sufocava.



Por sua causa, estavam ali reunidos onze Fuzileiros, o que para ele era impensável que alguma vez pudesse acontecer. O que se seguiu, foi por todos os presentes, vivido de forma especial, contagiados que estavam por toda a alegria que o Lau a Esposa e o Peniche irradiavam. São momentos que raramente se vivem tão intensamente.



O facto de lhe interromper-mos o seu preparo para participar no evento do núcleo do porto, para o qual é necessário uma programação atempada, não o deixou atrapalhado transpirando uma evidente preparação de Fuzileiro.



São estas as verdadeiras lições de vida, que nos tornam muito pequeninos, porque o Lau é um gigante.



Admiro tua força de viver
E a alegria que nos ofereces
Porque conseguiste sobreviver
Da tragédia que não esqueces

Ser teu amigo é regalia
Nem de todos ao alcance
Teu sorriso tem magia
Como música que se dance

Um abraço anfíbio deste camarada Fuzo.

Mário Manso

quarta-feira, 5 de novembro de 2008

PARA TUDO HÁ UMA PRIMEIRA VEZ:



No encontro nacional de Fuzileiros deste ano, “2008” mais uma vez, tal como outros camaradas, andei ocupado nas tarefas que me tinham sido confiadas, e lamento não ter disponibilidade de tempo para poder dar mais atenção aos filhos da escola que gentilmente mostravam interesse em conversar comigo. Se há coisas que gosto, é a de falar com todos aqueles que mostram algum interesse para um salutar bate papo e muito especialmente, sendo da família Fuzileiro. Mas este ano, aconteceu uma coisa que muito me sensibilizou. Depois de terminada a minha última tarefa na coordenação dos meios aquáticos, “anfíbios” e ao passar na zona em que se reunia o pessoal que veio de autocarro do núcleo do porto, abordei um camarada de armas, que numa cadeira de rodas ali esperava pelo embarque de regresso ao porto, estava acompanhado da sua esposa e do cunhado Peniche, também Fuzileiro. A hora do reembarque aproximava-se, e a conversa não podia ser longa, mas das breves palavras trocadas deu para ver da enorme e emocionada satisfação que aquele camarada reflectia. O contentamento era muito grande por ter voltado à nossa Escola que tanto contribuiu para ser o homem lutador que é, e logo ali prometeu que para o ano cá estaria de novo. Foi bom conhecer mais um elemento da família fuzileiro, neste caso particular, a quem o azar bateu à porta de forma muito violenta. Deixou-o com muitas limitações físicas, mas não abalou o seu orgulho de ser FUZILEIRO. A força anímica como enfrentou o infortúnio, resultado do acidente que o vitimou, é uma lição de vida. Também por isso, fazes parte do nosso orgulho e dos nossos valores. Fiquei logo, um pouco impressionado com aquele contacto, mesmo sem termos abordado as razões que determinaram parte da sua actual dependência.
Para além de ser a nossa primeira troca de palavras pois nunca o tinha visto, algo ficou para desbravar e pensei que iríamos estar muito tempo sem nos voltarmos a falar. Passado uns tempos do evento, recebo uma carta e que também, não esperava tão amistosa. Não foi certamente, apenas, por lhe ter dedicado alguma atenção!
Cada vez mais, me arrependo menos, de não me limitar no contacto com os camaradas da minha “nossa” guerra, mesmo sendo a primeira vez. O exemplo deste e outros primeiros contactos, contribuirão certamente para ajudar no futuro a ultrapassar algum eventual constrangimento de parte a parte. E quem sabe, se com a atenção que dei a este Filho da Escola, não terei contribuído para suavizar a falta de ligação que ele sentia em relação à família Fuzileiro!
Espero sinceramente, que esta postagem, pelo menos ocupe com prazer, “quem sabe” uns minutos da tua vida!


AQUI TE DEIXO UNS SIMPLES VERSOS, QUE MESMO REFLECTINDO MAL O QUE ME VAI NA ALMA, É O QUE TENHO PARA SELAR UMA AMIZADE.

LAU NOME DE GUERRA

És Homem com sentimentos
Com muita vontade de viver
Depois de tantos tormentos
Nunca te deixastes abater

Quero-te pois agradecer
Seres o fuzileiro que és
E também reconhecer
Que não te afogas em marés

O pouco da tua história
Que eu fiquei a conhecer
Enriqueceu-me a memória
E jamais a vou esquecer


A capacidade de luta
Que conseguiste conquistar
Deu-te uma força resoluta
Que não te deixou despistar

O teu ânimo é espectacular
Tem atitude e perseverança
Nunca te deixaste anular
E tiveste sempre esperança

Um fuzileiro nunca desiste
De lutar arduamente
E se a dificuldade persiste
Enfrenta-a e vai em frente

Valeram os ensinamentos
E a tua força interior
Para vencer sofrimentos
E não te sentires inferior

És forte e determinado
Tens valor és positivo
Não tens o espírito minado
És um exemplo construtivo

Do Amigo Mário Manso

quarta-feira, 3 de setembro de 2008

RELEMBRANDO


Certo dia quase se morria,

pela água que não se bebia.


Agora a uma distância de dezenas de anos, até sabe bem lembrarmos as dificuldades porque passámos. Para tanto, basta compararmos a falta de água para beber, e de um mediano petisco para comer, com aquilo que hoje conseguimos; ter.
Muita coisa aconteceu, e algumas vezes, por pouco se não morreu. Foi lutando pela sobrevivência, em completa carência de meios para satisfazer a mais elementar necessidade, que sem resquícios de vaidade se lutou contra o abandono a que éramos sujeitos. A guerra, tem muitos momentos, que são autênticos tormentos, e só existem porque quem os provoca, nenhum sofrimento lhes toca. Nos gabinetes, onde bem acomodados e melhor acompanhados, em que tudo existe à fartazana, nunca a guerra é uma tirana. Quem se lixa é a lagartixa, que rastejando neste mundo imundo, pouco ou nada se importava que fosse ao fundo.
Mas afinal que democracia é esta, que para a grande maioria, não presta? Custa constatar, que são os próprios ao votar, que se estão a tramar e depois, começam a choramingar porque a uma vida digna, não conseguem chegar, nem sequer enxergar.
É tudo muito complicado neste globo de enjeitados, em que só uma minoria, são considerados. Sinceramente, por esta forma de política, não me sinto apaixonado.
Mas afinal, não era por esta picada, já muito trilhada, esburacada, e sem regras nem nada, que eu vos alvitrei como estrada.
Vou voltar ao cruzamento, onde me descuidei e enveredei ao som do vento pela estrada errada que não conduzia ao azimute que me leva àquele tempo de muito sofrimento.
Vou-me situar, e sem exagerar, falar-vos duma peripécia vivida na guerra do ultramar. Vencíamos o ano de mil novecentos e sessenta e quatro, e a certa altura, com grande aparato damos corpo e alma a mais uma caça desvairada, ao “inimigo” que povoava uma zona de que se não conhecia nada, afinal despovoada. A zona não oferecia condições de sobrevivência logo, as populações não se instalavam, em locais de tanta carência. Uma das mais importantes para sobrevier é a água, sem ela cedo acabamos por morrer. Mas os eruditos estrategas no aconchego dos tais gabinetes, sem qualquer mágoa mandavam homens para onde nem sequer havia água, importavam-se pouco ou nada, com as dificuldades da rapaziada. Foi sem os apoios que aquela nomadização impunha, que um grupo de vinte homens, avançaram para cumprir com brio a missão que lhes foi confiada, sem questionar nada. A reserva de água era o cantil de cada um, sendo que as necessidades eram variáveis entre os elementos do grupo havendo um ou outro com mais necessidades. Não era o meu caso porque o Esquelas, era muito contido na utilização do precioso líquido, como tinha sido prática no curso, e como a carne não me pesava, aguentava mais que outros .
Decorriam já dois dias e duas noites, e a pequena dose do precioso líquido, tinha sido consumido e as forças eram cada vez mais débeis, mais ou menos, todos os homens daquele grupo estavam a ficar nos limites. Mais uma noite se aproximava, e a boca de alguns amargava, pelo capim que um e outro mascava. Alguns camaradas havia, que já não articulava palavra, nada se via e ninguém dormia, esperando pelo novo dia. A situação estava complicada, entretanto, dois voluntariosos e inconformados Fuzos resolveram dar uma vista de olhos pela zona que os envolvia, não fosse o diabo tecê-las. Valeu a pena, porque encontraram aquilo que teria sido um charco agora sem água, restava apenas terra húmida com cavidades à mistura. Era nada mais nada menos que um local, onde os elefantes desesperados procuraram água, então, fizeram buracos com a tromba onde retiraram algum líquido, ao mesmo tempo que no local despejaram a bexiga. Foi neste chavascal imundo que se conseguiu amenizar um pouco a falta do precioso. Foi com as latas da dolca da ração de combate, que atada a um fio de tropeçar que levávamos ao fundo dos buracos retirando algum produto. É claro que o problema continuava instalado, mesmo mal visto por todas aquelas almas penadas, não os abandonava. Restava-lhes esperar pela manhã para pelo menos, mascar algum capim ensopado pelo cacimbo da noite, e tentar encontrar algum local com água que saciasse todas aquelas bocas loucas de secura. Foi muito cedo, ainda mal se via que começamos de novo a rumar na direcção que a bússola determinava. Os trilhos não existiam, fomos nós que por lá deixámos um imenso auto-estrada, bem sinalizada, mas sem portagens ou limites de velocidade.

A ligeireza com que nos deslocávamos era tal, que nada passava despercebido, e foi fácil detectar lateralmente, um charco onde vários esqueletos de animais o calcetavam, o que ilustrava bem, a falta de água na zona. Mais uma vez, tivemos que não ser esquisitos, e de imediato começamos “os que ainda tinham alguma energia” a escavar no limite circundante do lamaçal buracos, para permitir uma primeira filtragem e da forma já utilizada, lá se foi tirando algumas misérias para dar àqueles que estavam nos limites. O sol era escaldante e a grande maioria estava incapaz e prosseguir, então, o Russo e o Esquelas não conformados com aquela injustiça, resolveram ir ao encontro de umas árvores que ao longe diziam presente e nós lá fomos em frente. Em boa hora o fizemos, porque lá chegados, deparámos com um nascente que vomitava água cristalina, deixando-nos de tal maneira afortunados com aquele milagre, que de imediato, nos ajoelhamos e tal como os burros na minha terra, bebemos até mais não querer, depois, fizemos uns quantos tiros anunciando que algo tinha acontecido. Enchemos os dois cantis e viemos trazer aos camaradas que continuavam quase todos, no local onde os tínhamos deixado, depois de dividido irmãmente o precioso magnífico, recolhemos cinco cantis cada um, e fomos abastecer de novo. Ao voltarmos, fomos encontrando alguns na auto-estrada então já bem definida. Pouco tempo depois, as cenas foram impressionantes, se tivessem sido gravadas, e hoje vistas, ajudariam muitas pessoas, a terem outro comportamento por quem passou tanto tormento.

FOI UMA GUERRA ONDE SE MORREU E MATOU, SÓ SEI, QUE COMO EU ERA, NUNCA MAIS SOU.
INCOMPREENDIDOS E DESPREZADOS, EM CONSEQUÊNCIA, DO QUE NÃO FORAM CULPADOS.
IGNORAM AS PESSOAS, SEUS DIREITOS E RAZÕES, COMO SE O SOFRIMENTO, FOSSE APENAS ILUSÕES.
UM PAÍS QUE NÃO ACARINHA QUEM POR ELE LUTOU, SÓ PORQUE NÃO DESERTOU, NÃO EXISTE ACABOU.

Um forte abraço.
Mário Manso

quarta-feira, 23 de julho de 2008

MESMO SENDO IRRISÓRIA, NÃO DEIXA DE SER HISTÓRIA

LEIAM ESTA PROSA, COMO DE UMA PINTURA ABSTRACTA SE TRATASSE.

As potencialidades da juventude
É uma nascente inesgotável
Com mais ou menos virtude
Será sempre água potável

Certo dia, do ano de 1966, dois jovens Fuzileiros encontravam-se de licença na bonita Cidade de Luanda para mais umas horas de descontracção. Por lá iam andando, olhando e observando aqui e ali, umas borrachonas que paradas ou em andamento, eram uns portentosos encantamentos. Algumas até, um autentico deslumbramento, que por momentos, até lhes atormentavam os pensamentos.
Tal como na mata, onde se vive, se morre ou se mata, também naquela clareira que era a Mutamba, aqueles jovens Fuzos rapidamente se aperceberam ter caído numa simpática emboscada, ao sentirem-se flagelados por quatro lindos olhos de duas (MG miúdas giras 42 de cintura) que apoiados nos seus bipés muito bem torneados lhes criavam uns calafrios na espinha, provocando de imediato, as suas armas de tiro simples, que mesmo não tendo sido faxinadas há muito tempo, estavam prontas a responder a qualquer intensidade de fogo, mesmo que as adversárias fossem teimosas na sua conduta e de forma tenaz e resoluta atirassem mais fruta, seriam vencidas na luta.
Divagar um pouco, pode ou não, servir, o objectivo que se quer atingir, mas neste caso, que quase tudo vai ficando fora de prazo, também esta prosa lhe dá azo.
A clareira da Mutamba está cheia de combatentes de ambos os sexos, (tal como eles, umas mais bem armadas que outras) alguns tentam o combate gay, outros tentam o oposto, as sem barbas no rosto, imaginando-se apenas com o que não está exposto, que acariciada com gosto, até provoca prazer e rosetas no rosto, está bom de ver.
Aqueles dois Fuzileiros estavam dispostos a deixarem-se apanhar à mão, mas o mais hipnotizado e introvertido, desabafa dizendo: Já vistes bem aquelas duas garinas? Que borrachos de papo cheio! Comenta o camarada mais atrevido: então tu achas que eu sou cego, ao ponto de não ver aqueles dois monumentos! Haja Deus diz o outro. Mas tu queres que eu, te as apresente, diz-lhe de imediato o mais atiradiço.
É pá deixa-te de tretas, estamos aqui há apenas meia dúzia de dias, ainda só saímos duas vezes e já as conheces? Pergunto: queres conhece-las ou não? Eu não me importava nada, mas aquilo não é peixe que morda o nosso anzol! Quem sabe, se não quererão experimentar uma minhoca bem iscada e fresquinha, acabada de chegar do puto! Com a vantagem de ser disponibilizada a custo zero, por dois pescadores inexperientes! “mas em potencia máxima” Vamos então a elas, mas não digas nada, até eu te as apresentar ok?
Sem o passo acelerado a que estavam habituados desde a recruta, avançaram sem medos para o confronto que se esperava, ser apenas, uma troca de galhardetes sem mazelas imediatas, a não ser, eventualmente, umas palavras menos próprias, mas, das bocas tão sensuais daquelas donzelas, era pouco provável que acontecesse.
Com o cenário montado, havia que dar inicio ao primeiro acto. Um pouco mais distanciados do que aqueles centímetros que os podiam comprometer, o artista principal, iça o seu membro superior direito, como mandam as regras, (o outro, estava no bolso das calças contendo algo, que de cabeça perdida, não se conformava, desejoso que estava, de também entrar em cena) franqueando-o, àquela que lhe pareceu ser a mais destemida, dizendo-lhe: Ora viva! Como está? Muito prazer Mário Manso. Com uma voz melodiosa e sensual retorquiu: Igualmente, Chucha Insatisfeita. Vai tudo bem convosco? Resposta imediata: sim está tudo bem. Acto continuo e sem dar hipótese à sua beligerante de meter bala na câmara, aperta a mão da sua colega que deu pelo nome de Dora, que já disponível lha oferecia para um primeiro contacto e que também, de forma muito simpática e suave, lhe a estreitou de tal feição, que mais foi uma carícia, que um cumprimento.
Entra em cena o segundo actor: apresento-vos o meu camarada e amigo, que também rapidamente simpatizou convosco. Dito isto, a mais reguila e insatisfeita, avança para o confronto perguntando: Mas de onde é que nos conhecemos? Só nos conhecemos daqui não é? De imediato, o guia respondendo ao fogo diz: pois, de facto não nos conhecíamos o que da nossa parte lamentamos! Mas agora já! E será que há algum mal nisso? De maneira nenhuma! A vossa abordagem foi de facto interessante, não foram inconvenientes, e até são muito simpáticos! E não digo bonitos, para que não fiquem vaidosos!
E desataram a rir com gosto com aquele timbre de gostosas. Os dois Filhos da Escola, um pouco convencidos, associaram-se àquele momento hilariante, dando-lhe também umas quantas notas de boa disposição.
Muito obrigado, mas vocês são muito mais que simpáticas. Isso é dos vossos olhos que também são bonitos, disparou a mais desenrascada.
Como diria o nosso compadre Alentejano, isto é que está aqui uma açorda! Os Fuzos, analisando rapidamente a situação, concluíram que tinham caído na zona de morte, e o potencial de fogo, para além de forte era destemido, então tinha que valer tudo, porque alguém tinha que sair vencedor. Estava o baile armado. Era preciso dançar ao som dos acordes, que chegavam daqueles portentosos instrumentos, que à sua frente, de forma carinhosa e quente, lhes entravam nos ouvidos e toldavam a mente, já pouco decente. Entretanto, elas começaram a segredar, ao mesmo tempo que se riam com gosto. Os machos latinos, pensaram logo que haveria por ali, alguma troca de palavras eróticas, e ficaram envolvidos por pensamentos estranhos que sem qualquer pudor, as começavam a despir. Era uma tarefa fácil afinal, até não dava muito trabalho porque as roupas eram poucas, e acima das primeiras dobradiças havia mais de um palmo, que não tinha protecção e os peitos, sem os artifícios de hoje, não enganavam e provocavam uma grande?… desorientação pois claro! Se pensou em outra coisa, valho Deus.
O tempo passava depressa e dois já machibombos tinham partido sem que aquelas dependentes tivessem resolvido partir. Os dois interlocutores tiveram a gentileza de as alertar, que mais um transporte estava a sair, mas logo disseram que pouco importava porque o ambiente estava interessante e tinham muito tempo. Assim sendo, a conversa continuou, fazendo-se algumas abordagens, quase sempre por bombordo porque sendo o lado do coração, a hipótese de bons resultados são sempre maiores!
Era já tarde e a hora de ponta estava vencida. Agora com muito menos assistentes e menos curiosos, tornaram-se ainda mais desinibidas, e a questão era incontornável, e mais cedo ou mais tarde com mais ou menos morteirada, havia de se voltar à razão do porquê, de Chucha Insatisfeita, porque até eram duas palavras que se entrosavam bem e para mal dos pecados, daqueles depravados, só contribuíam para serem assaltados por pensamentos ingratos. Olhe uma coisa: como é que lhe deram um nome tão desadequado, você que é uma moça tão feliz e satisfeita? Já não falo da Chucha, porque quanto a isso por aqui me fico dizendo: é uma coisa onde se pode mamar não é verdade? Sinceramente: se assim é, não importava nada, de voltar a bebé.
Como é que pode garantir que sou uma pessoa satisfeita! Bem: a essa questão podia-lhe responder de duas maneiras, mas prefiro dizer-lhe apenas, que se em algo poder contribuir para que atinja a plena satisfação conte com a solidariedade de um Fuzileiro porque essa é, uma das nossas características. Olhe que gostei dessa resposta mesmo sendo um pouco erótica. Peço desculpa se por ventura fui inconveniente! Qual quê esteja à vontade, eu gosto das pessoas que sem serem malcriadas se sujeitam a dizer o que pensam. Entretanto, o outro camarada ia debitando alguma conversa, dando assim folga para que o pretenso declamador, arregimentasse uma quadreca qualquer, que desse alguma resposta à franqueza e espírito de luta, daquelas maganas. Aqueles dois bibelôs já estavam em Angola desde pequenas, eram oriundas do Algarve e amigas inseparáveis, desde a viagem. Era demais evidente e nem era preciso ser crente, para ver o que se tinha em frente. Então, fabricados que estavam os versos, é-lhes perguntado se não se importavam de ouvir, o que havia para lhes oferecer, a mais foliona disse logo, não me diga que é uma declaração de amor! Tudo depende como interpretar o que lhe vou dizer proferiu o declamador.

Este encontro inesperado
Que estamos alimentar
Deixa-me todo grudado
Ao que gostaria experimentar

Que coisas boas, tão fofinhas.
Bendito seja, quem vos mereça
Era bom, que fossem minhas
Para eu perder, minha cabeça

Nesta conversa brincalhona.
Em que tudo pode acontecer.
Não me importava de lhe ir à?.
Antes de consigo adormecer


Mais uma vez, emergiu uma rizada, gostosa e bem temperada, rematando a mais folgazona: não leve a mal a pergunta, mas de que cabeça está a falar? E a risonha sinfonia a quatro, voltou a impor-se. Depois, todos ficaram calados, e meios embaraçados. Gosto das pessoas que dão luta, e não vai ficar sem troco, só não sei, se vai entender, e se gosta da resposta. Força fuzileiro, sem medos, retorquiu a brincalhona numa boa. Então cá vai, espero que tenham estaleca, e me perdoem a falta da palavra queca.

Se for possível concretizar
Esta ideia maravilhosa
Pode ser antes de casar
Porque é muito apetitosa

Desculpem lá minhas queridas
Esta pequena maldade
Mas porque são aguerridas
Merecem esta frontalidade

Vale sempre a pena lutar
Por algo que dê prazer
Gostava de a conquistar
Para a poder satisfazer
Se quiser colaborar
Basta apenas me dizer

Encaixaram sem reserva e um pouco eufóricas disseram, que eram muito criativas e intuitivas. Já naquele tempo, havia pessoas sem grandes tabus e o que estava acontecer, era uma agradável surpresa, para quem estava habituado a tantas limitações. Senão, veja-se a reacção da artista principal. Dá um passo em frente e espeta dois beijos no focinho daquele incrédulo Fuzo, que de desorientado que ficou e se não fosse ainda dia, não se sabe o que aconteceria se a beijava se a?…. pois, logo se via!.

Os fuzileiros, são treinados para enfrentar as situações mais adversas, sem nunca escolher o meio ambiente onde possam ocorrer, para tanto é necessário haver antecipadamente algumas informações e reconhecimento das zonas onde se vai actuar, para assim se definir a estratégia mais adequada, deforma a vencer todas as dificuldades e conquistar o objectivo.
A luta em que entrámos está a dar muito gozo, e a poder-mos continuá-la, iríamos certamente despoletar sensações bem diferentes de outras, obtidas em outros tipos de confrontos. Não só, porque o belicismo das armas são diferentes, mas também, porque neste caso, basta que sejam estimuladas, para se evidenciarem e ficarem prontas a disparar, nunca ejaculando balas que possam matar, mas muito pelo contrário, dar vida, procriar.
De repente diz a Dora: é pá está a ficar na hora! Mais um pouco, não achas que o diálogo está interessante? Questiona a insaciável. Sim! Mas é muito tarde e os nossos pais já devem estar em cuidados! Diz o ponta de lança: isso só acontece, porque eles não sabem que vocês estão em boas mãos, e muito capazes de as levarem a casa inteirinhas mas se calhar, insatisfeitas. Melhor dizendo, deixando os quatro descontentes, porque depois de uma luta tão intensa, impunha-se saltar em cima do IN. (Interessantes Noviças)

Pena foi, que dos bons ingredientes que havia, nomeadamente, boas melancias, grelos, tomates e pepinos, não se concretizasse uma faustosa caldeirada.
Mas o destino, nem sempre é compreensivo ao colocar naquela clareira, onde quatro jovens lutavam pacificamente, um impertinente carro, com um casal de preocupados progenitores de uma delas, que se propunha entrar na contenda sem que para ela fossem chamados, se alguma mais valia neles existia, seria apenas na experiencia, porque sendo as armas semelhantes, estariam mais gastas, e já sem capacidade, para dar dois tiros seguidos. Mas os argumentos eram fortes e demolidores e foi sem mais explicações e sem despedida, que tristemente avançaram para o carro e desapareceram na confusão do trânsito. Foi pouco perceptível algo que uma quis dizer, ficou a ideia, que gostariam de os voltar a encontrar.
A juventude faz parte do destino, mas algumas vezes, de forma abrupta é-lhe alterado, e a porta franqueada, antes de ser aberta, foi fechada e quem sabe, se o percurso daquelas almas não teria sido mais interessante!

Foi um desfecho inesperado e pouco desejado, acabou por ser ao mesmo tempo, o primeiro e último assalto, e uma grande desilusão! Era destes inimigos que dão luta pacífica, que os jovens treinados para a guerra, também tinham necessidade, para obter alguma felicidade, que o dever, muito cedo lhes roubou, e nunca compensou.
Poucos dias depois, abandonam a cidade onde só voltaram perto do fim da comissão.
E foi assim morta à nascença, uma boa hipótese de quatro jovens, poderem desfrutar do que mais belo a vida tem para dar.
E a chucha insatisfeita, não se sabe se alguma vez terá sido satisfeita, e a amiga? Será que também terá herdado o nome da amiga! Porque insatisfeita, com os desejos não satisfeitos, por algum sujeito que sem jeito, não colocou hirto o que ela tinha direito! Mas como a guerra é isto mesmo, uma fera sem respeito, nada feito.

Para não ser de modas, e sem dizer palavras incómodas, direi que se perderam muitas? É evidente e claro que a penetração acabaria por ser uma boa solução.

Se fosse jovem, e pudesse voltar a calcorrear os mesmos trilhos voltaria, quanto mais não fosse, para que imprevistos como estes não acontecessem.

Sejam felizes com todos os pensamentos e soluções que vos assaltaram a cabeça, mas o principal busílis da questão é sempre, a dificuldade da concretização.
Vale sempre a pena falar de coisas sérias, brincando com a chama de um lume, que pouco a pouco, vai murchando, ficando, cada vez mais brando.
Gostaria de saber, se o tempo que perdeu, valeu esta história verdadeira que não morreu.

Me desculpem, mas daqui vos mando, um abraço sem erotismo.

Mário Manso

terça-feira, 27 de maio de 2008

OS MORTOS E OS VIVOS



SERVIRAM PARA MORRER E MATAR
SEM NUNCA QUESTIONAR A RAZÃO
NÃO MEREÇEM A JUSTIÇA A DEFINHAR
PARA QUEM TEVE A VIDA AO SERVIÇO DA NAÇÃO

Já vai sendo tempo
Para que os vivos e os mortos
Deixem de ser vistos com olhos tortos
Mas com tanta preguiça
A justiça dos homens torna-se na negação
Da verdade e da razão
Faça-se justiça
A toda uma geração
A quem a guerra fez sofrer
Fez matar e fez morrer
Quantas paixões
Cheias de ternura cheia de amores
A que se não deu vida
Porque cedo lhes pararam os corações
Porque valores
Porque razões
Altruísmo foi coisa que não faltou
Porque muito se morreu
E muito se matou
São mais de uma dezena de milhar
Os nomes prostrados e alinhados
Nas lápides colectivas
Que insensíveis e sem defesa
São muitas vezes humilhados
Por gentinha sem razão
Sem princípios e sem educação
E sem noção do sofrimento
Vão continuar sem respeito
Por aqueles que foram os melhores da nação
E de quem só resta o nome
Escritos no mármore frio que envolve o forte
Que na lembrança de muitos vivos
Ainda cheira ao sangue que antecedeu a morte
De todos quantos lá vão continuar
Com os seus nomes sem vida
Á chuva ao sol ou ao luar
Na mente dos seus companheiros
Dos ainda vivos Soldados e Marinheiros
Eles vão perdurar
Porque o verdadeiro humano
Nunca deixa de sonhar e lutar
E não esquece quem merece
Há razões que ninguém tira
Pelas virtudes e pelos defeitos
Os direitos vão estar na mira
Até que sejam satisfeitos
Às razões dos combatentes
Ninguém deve ficar indiferente
Foi com a vida que estiveram presentes
Milicianos e do quadro permanente
Na retaguarda e na linha da frente
Foi de todas as classes e patentes
E a justiça tem que acordar a sua vertente
Porque tarda reconhecimento aos combatentes
Mas todos unidos de sul a norte
Vamos conseguir a vitória final
Honremos os camaradas com menos sorte
Que na guerra ou não, já encontraram a morte
Mário Manso

quarta-feira, 16 de abril de 2008

BONS VOOS FILHOS DA ESCOLA

Há Fuzileiros que não despem a camisola, nem que apenas só fique a gola. Começo desta forma este texto, porque tenho a certeza do que afirmo. Se pensam que é uma ilusão, vejam se não tenho razão:
Estava ainda ao serviço da empresa onde trabalhei durante trinta e seis anos, quando certo dia um camarada, daqueles que consideramos e a quem até fazemos algumas confidências, no caso, falo do amigo Fernandes, que depois da sua aposentação se dedicou à fotografia, e tem vindo a fazer um trabalho fantástico, a que infelizmente só um dia, a TAP. lhe dará o devido valor. Mas os Fuzileiros, através da sua Associação, já hoje reconhece, o seu contributo na vertente fotográfica em vários eventos. Mas voltando à essência da razão desta minha prosa um dia, sabendo das minhas origens guerreiras aparece-me com uma revista do pessoal de voo, onde vinha uma entrevista do Comandante Filipe Conceição Silva, que referenciava com orgulho, o facto, de ter sido militar nos Fuzileiros. Acreditem que estava totalmente adormecido para tal hipótese. (um homem que foi Marinheiro Fuzileiro) Logo me propus atingir um objectivo, conseguir falar com este Filho da Escola, terreno que desbravei com mais facilidade do que, quando com a minha catana, á frente do destacamento abria caminho nas matas de África. Avancei para o reconhecimento, auscultando a opinião dos camaradas mecânicos sobre o objectivo, depois, em que máquina se deslocava, e quando estaria na base. Munido dos dados mais importantes, resolvo provocar o contacto. Foi com as devidas cautelas que me aproximei do objectivo, já imobilizado e sem qualquer reacção, esperando pela minha provocação. Terminado o abandono do último transitório, avancei tentando emboscar quem ainda se encontrava no seu posto de combate. Foi junto à porta de armas, que de surpresa pronunciei: Comandante Conceição Silva? A resposta foi imediata, notei logo que o grau de prontidão,, só poderia ser de um Fuzileiro: sim, algum problema? Foi também em tiro simples que respondi, sabendo de antemão que ia acertar no muge: não, com um fuzileiro nunca há problemas! De imediato um aperto de mão e um abraço selou aquele primeiro contacto. Deu-me conhecimento de mais dois objectivos que era preciso envolver, assim fiz, utilizando a mesma táctica, com mais dois homens que pertencem a esta nossa família, e que eu queria, viessem fortalecer os elos de uma corrente, de tão boa gente. Nos assaltos seguintes, as vitimas; foram os Comandantes Soares Alves e Paulino, todos voavam nos mesmos tipos de aviões, hoje acontece o mesmo só que, nos maiores de toda a frota. Acreditem, que sinto um certo orgulho nestes Camaradas de armas que, tenha sido em terra ou no mar, também agora no ar, mostram que as capacidades dos Fuzos foi, é, e será sempre uma mais-valia, não só pessoal, mas essencialmente para as empresas, e para o País. São mais três sócios da nossa Associação que eu conquistei e à qual se sentem muito honrados pertencer. E isto, tem-me ajudado a colmatar, a falta de outros objectivos militares, com mais adrenalina. Tenho a certeza, que se não estivesse aposentado, iria minando o terreno e conseguiria reunir mais de uma secção de Fuzileiros, que agora, a navegar no ar, daria o nome de esquadrilha! Mas nunca é tarde, porque o bichinho mais cedo do que tarde, vai atacar.


Serviram primeiro a Marinha
São agora Comandantes no ar
Rotas por onde se caminha
Servidas por homens do mar

Boina ganha com sacrifício
Muita vontade e muito crer
Porque gostaram do ofício
Tiveram que lutar e sofrer

É grato saber Comandantes
Que continuam Fuzileiros
E sem se sentirem distantes
Dos antigos companheiros

EM TERRA, NO MAR, OU NO AR, SÓ ALGUNS SÃO CAPAZES DE NAVEGAR.
BONS VOOS CAMARADAS FUZILEIROS

sábado, 22 de março de 2008

UNS VERSOS PARA OS AMIGOS


Também tinha idade de escola
Quando me alistei na Armada
Sonhava disparar uma pistola
Ou fazer deflagrar uma granada

Se eu voltasse a ser jovem
Ia para Fuzileiro voluntário
Pelas razões que me movem
Companheiros de itinerário

Somos uma família de verdade
Sempre prontos a dizer presente
Filhos da Escola são irmandade
Porque a amizade é consistente

Os Fuzileiros têm uma história
Que faz inveja a muita gente
Ficou marcada na memória
Pelo orgulho que se sente

Era antes do sol nascer
Que desembarcávamos na luta
Tiros e palavrões iam aparecer
E a morte dizia, filhos da puta

Os fuzileiros foram sempre
Um grupo muito coeso
Fosse avante ou a ré
Cada qual o mais teso
Remando contra a maré

Foi nos rios da Guiné
De Angola e Moçambique
Que se mostrou como é
No tarrafo ou na bolanha
Sem utilizarmos a manha
Mesmo morrendo de pé

A guerra só é defendida
Por quem a não vai fazer
Porque não herda a sua ferida
E só lucro lhe vai trazer
Julgam-se para toda a vida
Mas também terão de morrer

NÃO ESQUECER NA ÉPOCA DOCE
MUITAS AGRURAS DE OUTRORA
É PORQUE ALGO APOQUENTA
QUE NÃO CONSIGO PÔR FORA
PORQUE A GUERRA É NOJENTA

UM DOCE ABRAÇO DESTE AMIGO

domingo, 16 de março de 2008

HOJE ARREPIO-ME


Desembarcar em situações complicadas, foi uma constante no dia a dia dos Fuzileiros durante a guerra em que participaram nas três províncias ultramarinas. Também, as deslocações nos rios montados nos seus Jaguares, (os botes) se transformava numa navegação de alto risco, a que sempre se dispuseram. Houve no entanto, situações, em que se aproveitou os meios que eram utilizados pelos guerrilheiros, (os fiat 600) ou seja, as canoas, ou pirogas como eram conhecidas. Eram lentas, mas podiam navegar em apenas três palmos de água, não faziam barulho, e o factor surpresa podia ser mais efectivo. Esta situação, de bote, só era conseguida, quando de noite se fazia parte da patrulha à deriva, porque o inimigo, considerava nunca ser surpreendido, porque o barulho dos motores nos atraiçoava.

Quando da minha segunda comissão de serviço, uma das coisas que me galvanizava, era o puder melhorar o domínio da técnica, para manobrar adequadamente aquele tronco escavado. Havia várias unidades, que no tempo foram apreendidas ao longo dos rios, lagos, e lagoas aos guerrilheiros. Logo que chegamos a Stº. António do Zaire, sempre que era possível mobilizava uns quantos camaradas com mais ou menos a minha idade, que me transmitiam alguma disponibilidade e confiança, para formar as respectivas tripulações. O número dependia sempre, do tamanho da respectiva. Normalmente, três elementos eram a tripulação ideal. Paulatinamente, fui conseguindo estimular os camaradas para o prazer que era, o andar de canoa sem ir ao charco e ainda, poder-mos vir a utilizá-las na caça aos guerrilheiros.
Certo dia, assim aconteceu no Lué Grande um dos afluentes do Rio Zaire. Foi aí, o palco onde os mais artistas mostraram quanto o treino adquirido tinha valido a pena. Tinha já rompido a aurora, e a esquadra composta por cinco canoas largava da foz daquele pequeno rio, para um destino previamente determinado. Mas havia uma grande incerteza será, que vamos conseguir atingir o objectivo sem problemas de maior! porque tudo dependia de factores que não dominávamos. Iríamos ter emboscadas? Conseguiríamos ultrapassar os rápidos que o rio tinha? Iria acontecer algum acidente com os elementos das tripulações? Tudo eram fortes possibilidades. Mas os Fuzileiros estavam treinados, e habituaram-se desde muito cedo a lidar constantemente com incertezas, e a guerra, comporta sempre muitas dúvidas à sua volta, e no caso, elas existiam e eram perceptíveis.
Para percorrer umas poucas milhas náuticas foi de facto, uma odisseia, e pelas quatro da tarde o Comandante resolveu atracar à margem para ai se pernoitar, porque era impossível a partir dali a navegação. Estava atingido o primeiro objectivo.
Consumidos os primeiros minutos daquela abençoada paragem, fui de imediato abordado pelo chefe (Comandante) que me diz, Manso, recebi uma mensagem da L.F. (Lancha de fiscalização) que se encontra fundeada na foz, de que, há correspondência para o pessoal, eu, como todos os outros camaradas estávamos um bocado estafados mas, pensei para comigo, será que não está por lá carta para mim! E disse para com os meus botões, se me convidar, e houver quem vá comigo vou lá.
Claro está, que o Cte. não me deu nenhuma ordem nesse sentido,(seia pouco rasoavel que o fizesse) mas, de alguma forma, me estava a sugerir que entrasse naquela, que foi uma grande aventura. O voluntarismo da juventude é generoso, e muitas vezes, encerra mesmo uma grande nobreza. Meia hora depois, estava a equipa formada pelo Mário Manso e pelo camarada, que no grupo mais garantias me dava o AMIGO José Augusto. O dueto estava pronto a zarpar, os motores estavam ainda quentes e prontos a responder a mais uma dura exigência. Era a canoa mais ligeira e mais rápida das cinco. Tripulação, dois elementos, armamento, duas g3, quatro carregadores, e quatro granadas. E eis que a vedeta ligeira larga a caminho do ponto de partida dessa manhã. Foi impressionante a velocidade que conseguimos imprimir àquele tronco aerodinâmico, tínhamos que aproveitar bem a velocidade que a corrente nos proporcionava, não podíamos perder tempo, porque o regresso ia ser ainda mais penoso, e o auto estrada não tinha iluminação, nem luar havia, e a reserva das forças estariam nos limites aquando do retorno. Decorria a progressão havia já algum tempo no sentido da foz quando subitamente, de estibordo, um enorme crocodilo se lança à água, e, é por muito pouco que não abalroa a veloz embarcação, e não obriga a um banho forçado àqueles dois disponíveis que eram afinal, a alma da sua força motriz, e que naquele momento se deslocavam junto à margem direita. Foi o único grande sobressalto daquela mítica viagem. Outros houve, mas sem que a adrenalina subisse tão alto.
A abordagem à lancha foi feita por estibordo, e toda a tripulação nos esperava no convés a dar-nos as boas vindas e com o material já pronto, dentro de um saco. Depois de Recebido o testemunho, foi metido algum combustível (duas Nocais) oferecidas pelo pessoal, que nos matou a sede e nos animou para o regresso. Aqueles dois voluntariosos Fuzos que se tinham disponibilizado fazer aquele trajecto em situação tão desfavorável, estavam com a moral em alta, era visível nos rostos da tripulação, a estupefacção com que nos admiravam, alguns diziam mesmo, vocês são fantásticos. Parecendo que não, mas deu-nos uma alma nova e um adicional especial de força, para de novo enfrentar as dificuldades da subida agora, contra a corrente.

A confiança que havia entre os dois camaradas, era muito grande, e não foi por acaso, que eu escolhi o meu amigo José Augusto para tal proeza, eu sabia com quem contava e tinha a certeza que não me dava a nega, estava ali um homem, com muita resistência e que dos meus alunos, era um dos melhores em equilibrio e na arte de manobrar a canoa. Passados mais de 40 anos, continuamos a ser amigos do peito. É assim, num espírito de mútua confiança, que encetamos o regresso, foi necessário fazer um apelo às nossas forças para que o nosso orgulho não saísse beliscado. O peso da responsabilidade era agora maior, porque a carga a bordo, era de um valor muito grande, eram muitos beijos, abraços, saudades, boas ou más notícias, e certamente desejos muito bons. Foi conseguido, e o objectivo atingido.
Ao chegarmos junto dos camaradas, era notório, a ansiedade e admiração com que nos esperavam, no tempo, a ingratidão não existia. Lembro, que para os dois tripulantes, não houve notícias Seguiu-se uma santa noite, dormimos sem sobressaltos, o inimigo não chateou, fomos dispensados do serviço como compensação. No dia seguinte, como o rio já não era navegável pelas irregularidades do seu leito, continuámos a pé na procura de trilhos que indiciassem guerrilheiros, e que nos levassem a algum acampamento. Neste momento tenho os pelos, em pé de guerra, estou arrepiado, será da idade? É de facto, um desperdício de energia que tanta falta faz, coisa que naquele tempo abundava, e que hoje algum jeito dava.
Um meu abraço para o grande amigo José Augusto, e para todos quantos participaram naquela peculiar missão, com capitaneio do comandante Rui Francisco Corte Real Negrão.

quarta-feira, 20 de fevereiro de 2008

AS GUERRAS SÃO UNS MONSTROS


Interrogo-me muitas vezes, do porquê das guerras, mas não chega com clareza à minha mente, justificação suficiente, para que aceite o que para muitos, se transforma até, num autêntico deleite. A idade, e o facto de nela ter participado, em dois períodos de dois anos, apetrechou-me com alguns anticorpos que me impedem, de olhar todo o belicismo que envolvem as guerras como coisa boa, que serve para dar cabo dos maus, e proteger os bons.
Esta lógica funciona nos dois beligerantes, e hoje, após mais de trinta anos de terminada a guerra a que o povo português teve de dar resposta por imposição do sistema vigente, do qual não gostava muita gente, e sem poder mostrar tal vertente. Mas, por muito que eu tente, cada vez mais, não encontro lógica, para as duas posições em confronto. Será que os guerrilheiros tinham menos razão que os soldados Portugueses? Será que na mente dos que se combateram, não existe ainda hoje uma grande confusão e frustração? Uns dizem, tanto esforço para nada, outros (de um e outro lado) havíamos de os ter morto a todos. Que no tempo da guerra, os indígenas viviam melhor! Era verdade. Deste lado do atlântico, fazia-se um esforço económico sem que o povo tirasse disso vantagens, a não ser umas encomendas encaixotadas, que muitas famílias enterravam e que os governantes iam tentando esconder. (porque não havia gente a morrer) Uma coisa é certa: Que foi para satisfazer interesses variados, não tenho duvida! Mas dos quais, esteve arredado a esmagadora maioria dos dois povos. Se fosse feito um balanço sério das consequências de todas as guerras muito pouco seria positivo. Os exemplos são mais que muitos, temos o nosso que é evidente. O que os povos esperam dos seus políticos, (porque é sempre desse grupo de polidos que emergem as pessoas que governam ou se governam) é que cumpram as promessas: de que vão administrar de forma séria a coisa pública, tomando medidas para protegerem os seus povos, da miséria, da fome, e do sofrimento que é sempre, o que mais resulta de uma guerra.
São mentirosos, porque não cumprem o que anunciam, mas o povo tem memória curta e hoje já esqueceu o que o distinto, ontem prometeu.
Os efeitos da guerra com que recentemente os portugueses se confrontaram, colocou para sempre, autênticos monstros nas vidas de muitas centenas de milhares de homens, (e mulheres) que numa luta constante, acabam muitos deles, por sucumbir aos seus malefícios e levam muitos outros à loucura.
E qual é atitude dos governantes? Ignoram, não mostram qualquer respeito, querendo apenas, que eles morram o mais depressa possível. Se bem me lembro, eles estão no poleiro porque, bem ou mal, foram os militares que lhe estenderam o tapete, a resposta, é uma enorme ingratidão.
São ditosas as tripulações, mas sem insinuações, este comando é um tremendo furo e muito e burro…com timoneiros tão reles, jamais atracaremos a porto seguro.

Um abraço deste vosso amigo.

quarta-feira, 30 de janeiro de 2008

EFEITOS DE UMA GRANDE AMIZADE

Acreditem meus amigos
Que me sinto reconfortado
Com todos estes artigos
Foi um homem sacrificado
Lutou contra todos os perigos
E continua filho enjeitado

O Fuzileiro José Parreira
Que toda agente conhece
É amigo da brincadeira
Mas ele nunca arrefece
Porque amizade verdadeira
É para sempre, e não esquece

Era uma missão sem contenda
Com um objectivo especial
Estava de novo na senda
Cai na emboscada crucial
Sem que ninguém o entenda
Cumpria-se uma lei marcial


Ao alinhavar as frases anteriores, eu quis que versejassem, porque pretendi homenagear o meu grande amigo, José Manuel Parreira, autor dos poemas que a seguir incluo nesta postagem. É provável, que nem todos entendam, mas afloram, a (sem) razão, dos cinco tiros com que o marcaram e quase mataram. Valeu a pena ter também contribuído para que se fizesse a sua recuperação a tempo de se salvar, valeu a pena quanto mais não fosse, para hoje nos deliciar com os seus deliciosos versos entre eles, os que chamou de ignorância, Obrigado Zé

IGNORÂNCIA

Alô senhores governantes
Lembrem-se por uns instantes
Dos Combatentes Veteranos
Lutámos até a exaustão
Para defender a Nação
Durante anos e anos.

Utilizam a ignorância
Quase não dão importância
A quem por lá tanto sofreu
Um jovem com pouca sorte
Foi lá encontrar a morte
E o que é que a Nação lhe deu?

Herói foi o titular
De alta patente militar
Que nunca foi a combate
Mas queria o «Zé» aprumado
De G-3 e camuflado
Quando tocava a «rebate»

Quantos com tanta paixão
Deram a vida á Nação
Não voltando mais a casa
Até na morte há distinção
ELES vão para o Panteão
E o «Zé» fica em campa rasa.

Não julguem que me lamento
Por ter tido tanto sofrimento
E ter tido a morte por perto
Meus eternos companheiros
Camaradas Fuzileiros
Um oásis no deserto.

Deviam ser mais humanos
Não traírem os planos
De quem por eles lutou
E estes jovens Portugueses
Que comeram tantas vezes
O pão que o diabo amassou

Nas províncias Ultramarinas
Balas, granadas e minas
Tudo serviu para matar
Foi assim a triste vida
Muitos só tiveram ida
Não conseguiram voltar.

Se alguém de boa memória
Quiser escrever a história
Dos antigos Combatentes
Dêem ênfase a este caso
Que foi o Soldado «raso»
Que fez as grandes «patentes»

QUEM ANDA NA FRENTE DE GUERRA SÃO OS SOLDADOS,
QUEM RECEBE OS LOUROS, SÃO OS GENERAIS.

terça-feira, 29 de janeiro de 2008

QUANDO A AMIZADE TEM VERDADE

Olá meu caro Amigo Mário Manso. Quis o destino que um dia em Angola, nos tivéssemos cruzado numa das nossas espinhosas missões. Não tendo sido numa situação agradável, acabou por contribuir fortemente para que nos uníssemos até aos dias de hoje. Cimentada esta grande AMIZADE, a determinada altura começamos a trocar impressões sobre as nossas vivencias de guerra que passamos nos FUZILEIROS, testemunhos esses que acabaram por ser transportadas para o papel, e dado um forte contribuído para que o nascimento do livro (FUZILEIROS FORÇA DE ELITE) seja uma realidade pela mão sábia do escritor e co-autor, o nosso grande amigo ele também um grande FUZILEIRO, Dr. ILÍDIO Neves Luís. Conseguido este objectivo, debrucei-me sobre a vasta obra poética do meu Amigo Manso tendo começado, por arrasto, a alinhavar umas sentenças ou opiniões, que levaram à construção também, de alguns (poemas) que aqui deixo, à mistura com um grande abraço deste vosso Amigo José Parreira.

Houve gente de má fé
Que não protegeu os Fuzileiros
Em muitas ocasiões
E ignorando até
Que fomos nós os «garimpeiros»
Do ouro dos seus «galões»

E nas muitas emboscadas
Com as almas despedaçadas
Se me safar volto a «Coina»
E de nós os mais sortudos
Chegamos a ter como «escudos»
A âncora da nossa Boina

Sofremos nas emboscadas
Com as fardas todas molhadas
Ora deitados ora de pé
Disto vocês sabem tudo
Chegamos a ter como «escudo»
Só a pala do boné

«Baile de Verão»

Depois do curso acabado
E a Boina ter conquistado
Armamos cá um banzé
Mas o pior estava guardado
Umas botas de atanado
Um fato camuflado
E uma G-3 P’rá Guiné

Fiz tanta pista de lodo
Vinha de lá preto de um todo
Talvez recorde no quartel
Estava lá sempre um tenente
Que dizia a toda a gente
«O lodo faz bem a pele»

Quantas vezes eu pensei
E tantas lágrimas chorei
Tão longe da minha terra
Falando com os meus botões
Quem seriam os «cabrões»
Que inventaram a guerra

Quando um tiro traiçoeiro
Tombava um Fuzileiro
Manchava de sangue a terra
Erguíamos os olhos aos céus
Como que a rogar a Deus
Para acabar com a guerra.

Depois da guerra parar
Tivemos que confirmar
Mortos foram muitos mil
Um beijo para todas as Mães
Um abraço aos Capitães
E ao 25 de Abril.

«A PAZ MAIS DESVANTAJOSA É MUITO MELHOR.
QUE A GUERRA MAIS JUSTA»!

quarta-feira, 23 de janeiro de 2008

O QUE OFUSCA A DISCIPLINA

O espírito de corpo, a lealdade, a camaradagem, e solidariedade, são valores que fazem parte da estrutura moral dos Fuzileiros, mas, quando por desconsideração dos homens, esses portes determinaram rebeldias e ofuscaram por vezes, a tolerada disciplina; que por regra, se queria cega, surda, e muda. Quando foi preciso defender princípios, mesmo que nem sempre bem ajuizados, ”por falta de tempo” a ética foi sempre determinante quando esteve em jogo a dignidade humana, ou a sobrevivência de direitos mais alargados, a que nos julgámos com direito.
É assim, que surge a resposta a uma continuada diferenciação no tratamento dado a todas as praças, (Grumetes Marinheiros e Cabos os abaixo da linha de água) embarcados no fiel depositário Vera Cruz a caminho de “Angola é Nossa” com que nos iam encharcando os ouvidos, tentando mentalizar ainda mais a evidente ignorância, dos filhos de um povo sofredor e inculto.
A bordo, seguiam mais de dois mil e quinhentos homens, nas refeições servidas, só alguns eram tratados com dignidade, daí resulta, que ao terceiro dia de viagem ao almoço, o pessoal (menor) de Marinha embarcado, composto por um Destacamento de Fuzileiros Especiais mais uns quantos para rendição individual de outros Fuzos e ainda, um grupo de camaradas de outras especialidades destinados a substituir a guarnição de um patrulha, resolve não almoçar.

Ao desagrado que todos aqueles filhos da escola interiorizavam, era só preciso tirar a cavilha e fazer explodir a injustiça acumulada, sentida por todos; não tanto pela rapaziada do exército mas, entendia-se muito bem as dificuldades que eles tinham para tomarem uma qualquer atitude de desagrado relativamente à lavasquice que de forma continuada, nos apresentavam para comer sem qualquer alternativa e sem termos sequer direito, a recusarmos tragar aquela refeição tão discriminatória e até aleatória dos princípios, da mais elementar justiça. Reagimos e não aceitamos que de ânimo leve, conspurcassem a nossa dignidade.
Os Fuzileiros, tinham no seu grupo camaradas que já tinham alguns anos de marinha, um deles, tinha pertencido à guarnição do único navio que fez frente à Marinha Indiana quando da invasão de Goa de seu nome Manuel Garcia “o Vinhais” é com este camarada que de imediato me tentei envolver, pedindo-lhe numa primeira fase, para que, ele tentasse averiguar do que tratava o almoço nesse dia. Este camarada movimentava-se bem no meio do pessoal ligado à cozinha, tarimba que lhe advinha da sua veterania na Briosa. Aqui presto homenagem, e à sua memória.
A resposta quanto à ementa do almoço, surge de imediato, com a triste novidade de que era o mesmo que tínhamos comido, quando um grande número de rapaziada se não sentiu muito bem (muitos com desarranjos intestinais). Era mais uma vez aquele bofe. (o trivial para os cães de hoje) Tinha bala na câmara e o dedo no gatilho, e propôs-lhe não comermos, ele, mais maduro e mais consciente, (eu com os imaturos dezoito ele com vinte seis) diz-me logo que eu era maluco e que nem pensar, porque era muito grave e seria considerado um levantamento de rancho (o que em terra, leva à substituição do comandante) etc. etc. Mas os argumentos eram pouco convincentes, e tinham pouca lógica para desmotivar a minha indignação, e porque não estava nada de acordo com tão medonho pessimismo, continuei a sustentar os motivos. A minha ignorância tinha dois fortes aliados: a descriminação e ingratidão com que estávamos a ser tratados, é assim que de braço dado fui insistindo, argumentando das nossas razões! Estávamos praticamente no início da viagem, e seria muito mau para todos ter que aguentar aquela treta até ao fim, etc. etc. Tantos tiros lhe dei, que ele acabou por se render (no bom sentido claro) e aceitou alinhar na estratégia que lhe tinha sugerido, que foi, colocarmo-nos nas partes laterais da escada que dava acesso à sala de jantar por onde passava só a plebe, e ali passarmos a informação a todo os Filhos da Escola, ninguém come, ninguém come repetidamente, eram apenas as palavras que cada um de nós ia dizendo aos camaradas, que nas escadas de acesso à majestosa sala de refeições iam passando por nós, e a quem cabia preencher as primeiras mesas daquela grande sala de jantar que ia de bombordo a estibordo e onde comia quase um terço de cada vez, da grande maioria do pessoal menor dos Militares embarcados.
Ninguém comeu absolutamente nada e o nosso descontentamento estava demonstrado. Entretanto, não deixou de haver algumas situações caricatas como por exemplo, soldados a pedirem-nos algumas coisas ou mesmo, um dos nossos a querer comer a fruta (que até era boa) mas, estando ao meu lado, lhe prometi de imediato um murro no focinho se ele o fizesse, e foi assim que se conseguiu dar voz a todos aqueles autistas por imposição, mas conscientes da razão de que pelo menos na guerra, todos deveriam ser mais idênticos. Porque para além dos galões, das divisas e de todas as hierarquias, todos eram homens mais ou menos iguais a nascer. A morrer, ninguém podia saber, mas porque não, iguais no comer?!
O que se passou logo que a notícia chega aos ouvidos do Comandante Bandeira, foi de imediato, sermos convocados, para formar junto à saia da chaminé, local destinado ao pessoal de Marinha embarcado. Prontamente, aparecem os responsáveis e todos os outros figurantes, que não se propondo fazer qualquer representação, apenas queriam colocar em cena o direito à indignação, resistindo à humilhação sem qualquer presunção. Por isso não aceitámos as insinuações com que nos quiseram vergar, mesmo quando o Cmdt. da nossa unidade tentou aliciar, alguém que quisesse ir comer, dizendo que saísse da formatura. Ninguém vacilou, não houve passos em frente e muito menos à retaguarda. No entanto, pelo respeito que nos merecia e merece ainda hoje passados quarenta e quatro anos o nosso Comandante, aceitámos ir ao refeitório fazer que comíamos, depois de nos ter dito que tentaria que se alterasse a situação, fomos, mas apenas misturamos a comida.
Se o objectivo não foi totalmente conseguido, obtivemos seguramente, um olhar diferente de outra gente, que nos julgara mais indigente, e a camaradagem, ficou mais consistente. Se no mar alto as hostes abalaram, também os inteligentes golfinhos, nos saudaram.
Como muitos outros, o meu Cmdt. foi um grande condutor de homens, disciplinado e disciplinador, a quem nunca vi indícios de medo, e incutia muita confiança aos seus homens, onde o barómetro da moral se mantinha sempre em alta. Não é, uma análise de conveniência porque não tenho estatuto para ser promovido ou destituído, se não me castigou, quando podia e sem dar contas a ninguém, não seria agora que o iria fazer. Com ele fiz duas comissões, e mesmo já fora de prazo, faria a terceira, porque os valores de camaradagem que uma guerra propôs a muitos de nós, foi apenas e quase só para a grande maioria, a grande dádiva, que vai perdurar entre Comandantes, Sargentos e Praças, para todas as suas vidas.

O Esquelas e o Vinhais, como todos os seus iguais, foram leais, mostraram dignidade, camaradagem e espírito de corpo. Deu para ver quanto a união faz a força. Não comer é triste, mas é um direito que a todos assiste, quando a desconsideração insiste, a indignação resiste, e é também para isto, que a dignidade humana existe.
Pena é, que o homem, não saiba em conjunto, utilizar a força que tem dispersando-a muitas vezes de forma tão pouco dignificante.

Um povo humilde e inculto, é sempre mais moldável até na hora do indulto, mas quem não reage ao insulto?

sexta-feira, 11 de janeiro de 2008

HOMENS que nunca morrem! - Ricardo Ferraz

Os homens retêm na memória momentos de glória, ou da mágoa de uma qualquer história. Eu tenho vivo no meu arquivo da glória, um homem que na Escola de Fuzileiros deixou um cunho muito acentuado. Ricardo Ferraz era tramado, ninguém podia estar descuidado, porque era logo entalado. Para quem não saiba, foi durante décadas o professor de boxe da Escola de Fuzileiros. Contribuiu para que, em muitas das contendas em que os Fuzos estiveram envolvidos, os KO’s, mais ou menos técnicos, surgissem quase sempre antes do último assalto, porque os nossos adversários, ou iam ao tapete, ou abandonavam o combate e o ringue.
Enquadro agora um episódio de que fui interveniente. Tinha-se já definhado o sábado e eram já 01h30 de um domingo do ano de 1963 (poucos dias antes de ir para Angola) e no trajecto que fazia a pé da feira popular para o Poço Bispo, já no fim da Av. do Brasil perto da rotunda do relógio, surge de dentro das árvores ai existentes um grupo de três amigos que de forma inusitada disparam uns palpites pouco abonatórios aos meus dois camaradas que mais à frente com eles se cruzaram; tendo ficado a fazer um xixi, eu vinha mais atrasado. Quando chego junto deles, o conflito verbal estava já muito aceso, e se até ali eram três contra dois passámos a estar em igualdade. Coloquei de parte a ideia de exercer a função de bombeiro e, de imediato, confrontei o mais matulão, insurgindo-me contra a provocação desencadeada, dizendo-lhe que mereciam todos um par de murros na tromba. A intimidação continuou com afirmação, de um deles, de que o grandalhão era campeão de boxe do Sporting. O herói, de imediato, tenta atingir-me com um soco, em que era perceptível a técnica do boxe. Eu tinha já um ano de instrução, havia há pouco terminado o curso de Fuzileiro Especial e desde a recruta que sempre me foi simpático ir para o ginásio dar e levar com as luvas de dez onças no nariz, tendo até, sido escolhido no dia do juramento de bandeira para representar o boxe. Como o receio de se levar um murro era inexistente, porque já se tinha levado e dado vários, sobre a batuta do velho mestre, que incansavelmente nos elucidava da melhor forma de utilizar os punhos, e de que a melhor defesa era o ataque (mas, sem nunca descurar o valor e o respeito pelo adversário). Estes conselhos foram determinantes para levar de vencida o tal artista que se pintou com o seu próprio sangue que lhe jorrava do nariz. Por falta de juiz de ringue, e de assistência, perguntei-lhe às tantas, se queria mais, ou se ficávamos assim. Unanimemente os três pediram desculpa e seguiram também a pé os seus destinos tal como nós, que por falta de transpores àquela hora seguimos o nosso percurso.
Foi um privilégio para quantos puderam conviver de perto com a violência das suas carícias, ter tão exímio professor, que mesmo não ensinando matemática, ou português, ajudou com uma disciplina, que muito contribuiu para dignificar os Fuzileiros e a instituição, defendendo a vida, que também se escreve com letras, ou a dignidade que em certas alturas valeu todo o dinheiro do mundo. Foi assim que muitos amigos se gladiaram esmurrando-se algumas vezes mas, sem que isso tenha desvanecido a camaradagem e amizade, que ainda hoje continua forte e a recomendar-se.

Lembro-me de, num dos nossos encontros nacionais, termos estado a conversar envolvidos num grupo de vários camaradas, e onde ele ainda continuava a colocar à prova os nossos reflexos, levantando um braço para abrir o caminho, e com o outro nos colocar o punho no estômago, a sua tentativa em mim não surtiu efeito, porque eu naquele momento tinha recuado umas dezenas de anos e tinha presente o quanto ele gostava de nos fintar. E disse-me assim: olha! Fico feliz, porque tu foste um dos muitos por quem valeu a pena eu gastar o meu latim, porque não descuidas a tua defesa. Foi uma daquelas conversas inesquecíveis, porque rimos, e chorámos quase das mesmas coisas, sem conseguirmos envergonhar, ou controlar os nossos sentimentos.
Quando morreu, foram os seus Fuzileiros como ele carinhosamente dizia, que aos ombros o conduziu à sua última morada. Como homenagem, fiz-lhe na altura, cinco versos, acrescentei hoje mais um, para que representem a década em que o conheci. Espero também, que possam contribuir par iluminar a estrada, da sua nova caminhada, para que o seu espírito o percorra em paz.

Homenagem ao Mestre Ferraz


terça-feira, 1 de janeiro de 2008

A nossa Associação de Fuzileiros


FUZILEIRO UMA VEZ, FUZILEIRO SEMPRE!!!

A nossa Associação é o resultado vivo do empenho e determinação de uns quantos Fuzileiros que, em boa hora, no ano de 1977 resolveram escriturá-la. Rendo, aqui, a minha homenagem aos que já partiram, e o meu grande abraço aos que, felizmente, ainda estão no seio dos vivos. Foi um passo grande e entusiasmado, mas muito tarde concretizado! Tenho escutado, de alguns mais incrédulos, variadas razões e interpretações, mas como a nossa Associação não se quer enfeudada a políticas, religiões ou clubes, eu não dou chucha, não alimento, nem alimentarei polémicas nessas áreas. Quando confrontado por camaradas de Associações de outras armas, com a estranheza de termos nascido tão tarde, comparando com eles, que se constituíram logo a seguir ao 25 de Abril sem problema eu dou-lhes, como resposta, que isso mostrou que continuavam, no tempo, a serem considerados inofensivos. (Se os Fuzileiros desorganizados são perigosos, organizados, serão ainda mais). É assim, sem tiros, que respondo com elevação e alguma verdade à suposta veterania, porque os Fuzileiros são herdeiros da força mais antiga constituída (1585) com carácter permanente em Portugal, e cuja fundação remonta a 1621. Por algumas razões, “que não são inventadas” é que todas as outras forças, formam à nossa esquerda.

Se os arautos da desgraça tivessem presente que, se os Fuzos não estão vocacionados para fazer golpes de Estado, enquanto militares, muito menos através de uma civil Associação de classe, apenas congregadora de ideais.

Por ser essa a sua postura, e muito bem, o seu comportamento em determinada altura depois do 25 de Abril evitou que algo de mais grave acontecesse. Não seria, pois, uma Associação civil e desarmada, que envergonharia a Armada.

E assim, só em 2000 se realizaram as primeiras eleições, da qual saiu a designação dos seus órgãos sociais. Os actuais representam o quarto mandato e avizinha-se o seu término no “final de Março de 2008”

Aproveito para convidar todos os camaradas que, por qualquer razão ainda não se fizeram sócios da Associação, coloquem de parte os motivos, porque tem mais força, a força da razão, do que a razão da força. Penso eu que as causas porque somos Fuzileiros são enormes, comparadas com alguma pedra que tenha ficado no sapato. Esperamos, pela alegria de vermos por cá, mais elementos desta família especial que nós somos.