sexta-feira, 21 de dezembro de 2007

Não há amizade sem verdade

Há palavras que, pelo seu conteúdo, têm um peso enorme nas nossas vidas. E, quando depois de muitos anos, tivermos alimentado amizade sem verdade, e chegarmos à conclusão que ela foi uma ilusão! Leva-se um tremendo trambolhão.
E a situação foi mais clamorosa, porque se passou com um camarada de armas. Aconteceu comigo, andei dezenas de anos com um amigo, apenas construído no meu imaginário, porque com ele ombreei nas dificuldades da Recruta, do ITE e por fim, no Curso de Fuzileiro Especial, (conquista da nossa boina); só não estivemos nas mesmas unidades de que ambos fizemos parte na guerra do ultramar. Felizmente, que é o único caso nas minhas amizades que, com mágoa minha, foi uma ficção.
E só depois de quarenta anos e por razões pouco razoáveis, cheguei a esta conclusão. Custou-me mas, apenas, sei que tenho bons amigos: uns pobres e, ao mesmo tempo, muito ricos e, outros, quase só ricos; uns com mais academia, outros com menos cultura. Para mim, todos diferentes, todos iguais. Desculpem-me esta nostalgia, mas os amigos servem para partilharmos também as nossas mágoas. E porque não, falarmos delas!
Tenho uns quantos versos sobre a amizade, hoje vão seis.
Um abraço quente, em tempo de frio. É como um cálice de aguardente, que nos alivia, as agruras da mente!

A amizade tem tanta força
Que até a razão desconhece
E por ser tão sublime
Nem a enzima envelhece.

Quando ela nos bate à porta
Logo lhe abrimos os braços
No momento pouco importa
Se nos irá criar embaraços.

Não confiar cegamente
Até ver se é verdadeira
Tudo na vida é consequente
Pode até ser uma ratoeira.

As amizades de ocasião
Podem ser interesseiras
Metem-nos logo no coração
Prontos para todas as rasteiras.

Podemos até ser enganados
Porque cegamente confiámos
E não nos sentirmos roubados
De algo que não enxergámos.

Há amizades de várias maneiras
Algumas com segundas intenções
Umas que são muito verdadeiras
Outras que são grandes ilusões.

Mário Manso

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