quarta-feira, 2 de dezembro de 2009

UM DOS MUITOS AMIGOS

















Há Amigos que não envelhecem, ou tão pouco esquecem. Assim acontece com um dos vários amigos forjados nos Fuzileiros. Este tem sido de facto um local que se tornou num autêntico viveiro, onde ainda hoje continuam a florescer. É frequente encontrar camaradas de armas, com quem me cruzei pela primeira vez e de quem facilmente ficamos amigos, sujeito nestes casos, (de amor à primeira vista) a que apareça alguma desilusão. Felizmente que a grande maioria, ficaram para sempre porque trouxeram, sem nada quererem levar em troca, que não seja, a mesma amizade saudável, com que nos vamos marcando uns aos outros.
Voltando à razão deste meu débito, que é, um camarada e Filho da minha Escola, com que sempre ombreei desde a recruta, ITE., curso de Fuz. Especial, e que depois, veio também a fazer parte do mesmo destacamento no ultramar, chamado Amílcar, nome de guerra de Russo. Este amigo, cujo nome também alimenta a história do Esquelas no livro Fuzileiros Força de Elite, era um grande militar, apenas tinha um senão, que era, o não admitir que o pisassem sem razão, coisa que acontecia algumas vezes com muitos daqueles mortais que só se sentiam gente grande, quando faziam o que éticamente não deviam. Portanto, ajustar contas o mais em cima da hora possível, era para ele ponto de honra para que os juros não se acumulassem, ou se viesse a perder a oportunidade de pagamento.
Saiu da Marinha em fins de 1965, depois de estar envolvido em algumas actividades, tornou-se num potencial imigrante, durante alguns anos na Europa e depois nas terras do tio (deles) Sam. É sócio da Associação mesmo na América! O que contrasta bem, com outros camaradas que tão perto da sede questionam, o que é que ganham em estarem ligados á instituição! Palavras, para quê! Não é Fuzileiro para sempre! Já se vê.
Numa das suas visitas a Portugal, tivemos a oportunidade de tirar uma foto juntos, depois de mais de quarenta anos passados, de uma outra tirada no Zaire. A equipa que formamos no destacamento era, o único grupo mais jovem da unidade. Todos da mesma escola, e todos voluntários, penso mesmo, que não terá existido situação igual nas unidades constituídas, durante a guerra colonial, dado que havia uma norma consensual que predominava, que era, distribuir pelos mais antigos as respectivas chefias. Como se sabe, as equipas eram sempre chefiadas, pelo mas graduado ou antigo no número, e a nossa unidade tinha muitos camaradas bem mais velhos que os nossos dezoito anos, mas no nosso caso, era o mais marreta no algarismo, mais jovem na idade, só que tinha dado mais pontuação no curso e isso ditou o posto de comando, da que era a equipa de exploração ou seja, a que ia sempre à frente, que embarcava no primeiro hélio, e o último grupo abandonar o terreno.
Com este amigo, vivi e convivi durante mais de dois anos, e tenho retidas muitas peripécias, que não serão muitos, os que se podem gabar de lhes ter dado também estrutura. Vou apenas dar corpo a duas, uma delas, era a de que, este camarada engordava nas operações, mesmo naquelas com duração de dez dias, outra, aconteceu no rio Zaire no posto da Macala: ao experimentar um motor, zarpa sozinho e numa zona muito afastado da margem depois de colocar o motor em ponto morto, para fazer uma analise de comportamento, e estando em pé á sua frente o dito engatou-se de marcha á frente, tendo-o projectado para cima do volante, que por estar sem protecção, lhe rasgou a barriga com queda imediata para a água, o bote ficou a rodar para estibordo á sua volta, e ele consegui, só com uma mão agarrar o bote, dado que a outra ia segurando as tripas que queriam sair, recolhendo sozinho ao posto onde foi depois socorrido.
Foi sempre muito solidário, podia-se contar com ele sempre, e em qualquer situação, mesmo que aparentasse dificuldades.
Tem sido muito reconfortante em todos estes anos (10) que estou ligado à Associação de Fuzileiros ter a possibilidade de conhecer camaradas que de outra forma não vinha a conhecer, desde o Sr. Grumete ao Sr. Almirante, e mesmo muitos outros amigos dos Fuzileiros, que sendo sócios Simpatizantes da Associação vão participando nos eventos. E assim, vou ficando mais rico, com estes contactos, únicos proventos que me vão enriquecendo, fruto das muitas amizades que vou compartilhando.
Para todos os amigos, futuros, e os nunca, um abraço
Mário Manso




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