terça-feira, 29 de janeiro de 2008

QUANDO A AMIZADE TEM VERDADE

Olá meu caro Amigo Mário Manso. Quis o destino que um dia em Angola, nos tivéssemos cruzado numa das nossas espinhosas missões. Não tendo sido numa situação agradável, acabou por contribuir fortemente para que nos uníssemos até aos dias de hoje. Cimentada esta grande AMIZADE, a determinada altura começamos a trocar impressões sobre as nossas vivencias de guerra que passamos nos FUZILEIROS, testemunhos esses que acabaram por ser transportadas para o papel, e dado um forte contribuído para que o nascimento do livro (FUZILEIROS FORÇA DE ELITE) seja uma realidade pela mão sábia do escritor e co-autor, o nosso grande amigo ele também um grande FUZILEIRO, Dr. ILÍDIO Neves Luís. Conseguido este objectivo, debrucei-me sobre a vasta obra poética do meu Amigo Manso tendo começado, por arrasto, a alinhavar umas sentenças ou opiniões, que levaram à construção também, de alguns (poemas) que aqui deixo, à mistura com um grande abraço deste vosso Amigo José Parreira.

Houve gente de má fé
Que não protegeu os Fuzileiros
Em muitas ocasiões
E ignorando até
Que fomos nós os «garimpeiros»
Do ouro dos seus «galões»

E nas muitas emboscadas
Com as almas despedaçadas
Se me safar volto a «Coina»
E de nós os mais sortudos
Chegamos a ter como «escudos»
A âncora da nossa Boina

Sofremos nas emboscadas
Com as fardas todas molhadas
Ora deitados ora de pé
Disto vocês sabem tudo
Chegamos a ter como «escudo»
Só a pala do boné

«Baile de Verão»

Depois do curso acabado
E a Boina ter conquistado
Armamos cá um banzé
Mas o pior estava guardado
Umas botas de atanado
Um fato camuflado
E uma G-3 P’rá Guiné

Fiz tanta pista de lodo
Vinha de lá preto de um todo
Talvez recorde no quartel
Estava lá sempre um tenente
Que dizia a toda a gente
«O lodo faz bem a pele»

Quantas vezes eu pensei
E tantas lágrimas chorei
Tão longe da minha terra
Falando com os meus botões
Quem seriam os «cabrões»
Que inventaram a guerra

Quando um tiro traiçoeiro
Tombava um Fuzileiro
Manchava de sangue a terra
Erguíamos os olhos aos céus
Como que a rogar a Deus
Para acabar com a guerra.

Depois da guerra parar
Tivemos que confirmar
Mortos foram muitos mil
Um beijo para todas as Mães
Um abraço aos Capitães
E ao 25 de Abril.

«A PAZ MAIS DESVANTAJOSA É MUITO MELHOR.
QUE A GUERRA MAIS JUSTA»!

3 comentários:

Anónimo disse...

Como frequentador das pistas de lodo de Coina (não por vontade própria mas pela "necessidade" do treino), sinto hoje, ao ler estas palavras, um orgulho imenso por ter estado e ter partilhado os mesmos locais que estes HOMENS. Jamais, em 1977, eu percebi o alcance daquelas minhas acções e a importância que anteriormente elas tinham tido para outros HOMENS!
Aqueles locais são, para mim, agora, como que templos onde me recolho em Honra àqueles que lá sofreram e que lá começaram a perceber a Vida e o sentido de palavras como Lealdade e Honradez!
Bem haja, camarada Parreira (permita-me que assim o trate) e ajude-nos a perceber o passado para melhor nos defendermos do futuro!

Anónimo disse...

Meu Querido Amigo Victor, aproveito para te dar um abraço e dizer-te, quanto aprecio a forma como entendes as coisas que vão na alma destes velhos e ferrugentos Fuzos. Que a tua memória, se mantenha viva e saudável e vá enriquecendo pela vida fora, que te desejo longa, e com muita saúde.

Anónimo disse...

Porque és especial? É coisa, que quem te conhece não pergunta. E para mim és: Fuzileiro Especial, como pessoa, és Especial, como combatente foste Especial, como Animador, cantor, interlocutor és Especial és uma pessoa e um amigo ESPECIAL, se mereces os incensos! Eu não tenho dúvidas. São valores que não se compram nem se vendem, e podem manifestar-se de várias maneiras. E desta forma, também aprecio muito. Os meus amigos, ao lerem o que o Camarada e AMIGO ZÉ PARREIRA brilhantemente escreveu em poesia, para brindar o nosso blogue, vão certamente chegar a algumas conclusões. O que ele escriturou, só podia ser feito por quem tem uma enorme sensibilidade, por quem viveu, e ainda vive a guerra e sente com orgulho, os Fuzileiros! Porque tem verdade, é genuíno e tem alma. Obrigado Zé da Vinha, trato-te desta forma carinhosa, (sem mariquices)porque gosto deste nome com que te projectas na personagem do nosso livro FUZILEIROS FORÇA DE ELITE. Para quem não saiba, é um livro que conta na primeira pessoa dos seus autores episódios vividos nas três frentes da guerra de guerrilha que Portugal enfrentou. Sejam bem-vindos á sua leitura.