A Fuzo poesia não é contenda
Nem nenhum campo de batalha
E é pena que não se entenda
Que são reflexos da metralha
E triste que alguém se ofenda
Com um verso em que se encalha
Será que ainda é proibido
Podermos desembarcar
O que na alma está escondido?
Mas já não é possível estancar
Algo que está corroído
Por tanto nos sufocar
É poesia de meia tigela
A que ninguém passa cartão
Mas que diz de forma singela
O que nos vai no coração
E se descobre alguma mazela
Desculpem a falta de instrução
Depois de tantos anos
De a guerra ter acabado
Ainda continuamos tiranos!
Será da patente de soldado
Que nos dão tantos abanos
E nos querem por de lado?
Temos direito à dignidade
Que a par e passo nos negaram
Mas continuo a ter saudade
De todos quantos navegaram
Nos ventos da liberdade
De que muitos não gostaram
Todos quantos foram à guerra
Tivessem ou não galões
E que enfrentaram a mesma fera
Não se mostram valentões
Não gravitam noutra esfera
Nem continuam parvalhões
Houve muitos oficiais superiores
Que nunca de forma resoluta
Mostraram que tinham valores
Porque era necessário, conduta
Para merecerem os louvores
Que apenas se ganham na luta
Foi sempre uma aberração
Dar posições de comando
A quem faltava preparação
Apenas iam complicando
Embaraçando a situação
Da avioneta posto de mando
Custa-me muito constatar
Que ainda haja olhos turvos!
Ponham gotas para dilatar
Porque os ombros estão curvos
E a morte é que vai ditar
Que deixaram de ser parvos
Há algumas condecorações
E muitos outros brilharetes
Para quem não teve condições
Porque não é nos gabinetes
Que há adrenalina e pulsações
Que criem os tais ambientes
Quando a poesia tem verdade
Que a muitos custa aceitar
Não lhe retira dignidade
Nem é para no lixo deitar
A muitos, custa a realidade
Que não é difícil constatar
Camões no seu pedestal
Deve ter sido censurado
Mas continua de pedra e cal
Sem um verso excomungado
Mesmo às vezes radical
Tem um valor conceituado
Há homens injustiçados
Que é preciso entender
Estão a ficar despedaçados
Sem se conseguirem defender
E muito embaraçados
Com a frieza do poder
É da classe de oficiais
Que hoje é deficiente
Das especialidades navais
Que perante seu cliente
Com cinco tiros e mais
Se mostrou sempre indiferente
Há muitas mágoas acumuladas
Com injustiças à mistura
Que não podem ser caladas
O que seria contranatura
Porque faltam contas saldadas
Com danos em clausura
Há milhões de portugueses
Que não entendem Camões
Até os cultos por vezes
E não se tratando de sermões
Temos por ai muitos fregueses
Que de espírito são bem anões
Eu não sou deficiente
E fui ferido em combate
Mas se ser-se consciente
É um princípio para abate
Serei sempre consequente
Até que um tiro me mate
Que ninguém se sinta ofendido
Por algum desembarque frustrado
Porque não há inimigo escondido
De que vale ficar irritado
Num lamaçal perdido
Por todos, já rejeitado
domingo, 27 de dezembro de 2009
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